Todas as criaturas acabam por morrer. 90% de todos os seres que já habitaram a Terra, estão hoje extintos.
A história da Terra conta-nos que existem períodos calmos, com maior ou menor duração, que terminam bruscamente com uma extinção em massa das espécies existentes.
A mais popular das extinções é a dos dinossauros.
Os dinossauros foram extintos há 66 milhões de anos, no final do período Cretáceo e da era Mesozóica. O evento que fez desaparecer os animais que, apesar de nunca termos conhecido, preenchem o nosso imaginário, arte e cultura, é objeto de repetidos estudos que procuram uma resposta simples: porque se extinguiram?
Quando os dinossauros subitamente desapareceram
A extinção dos dinossauros é referida cientificamente como a extinção K-Pg (anteriormente extinção K-T), onde K é a abreviatura do período Cretáceo, que terminou e Pg a abreviatura do período Paleogeno, que teve início.
Tratou-se de um evento que, subitamente, aniquilou quase toda uma dinastia de criaturas, com populações numerosas pelo planeta, apta a diversos tipos de climas, habitats e com dietas variadas.
Para além dos dinossauros, desapareceram nessa extinção os pterossauros, os mosassauros, os plesiossauros, as amonites e algumas espécies de peixes, mamíferos, aves e tubarões.
Contudo, vários outros animais que com eles habitavam sobreviveram, aparentemente sem problemas, tais como alguns lagartos, rãs, tartarugas, salamandras, diversas espécies marinhas, crocodilos e vários tipos de mamíferos e artrópodes – sem esquecer um tipo de dinossauro terópode a que hoje chamamos de aves.
Mas vamo-nos focar nos dinossauros. E antes de passarmos às principais teorias que procuram explicar a sua extinção, vamos recuar um pouquinho no tempo e perceber que o futuro dos dinossauros já poderia estar em cheque.
Os dinossauros já estavam destinados a extinguir-se?
Independentemente dos fenómenos que tenham provocado a extinção dos dinossauros, algo de errado já se passava na sua diversidade. A extinção em massa pode ter apenas apressado algo que iria acontecer de qualquer jeito.
Nos últimos dois milhões de anos antes da extinção, muitos grupos de dinossauros eram raros ou já se encontravam extintos – casos dos saurópodes e dos estegossauros, por exemplo. Quase todos os dinossauros que viveram entre os 68 e os 66 milhões de anos pertenciam aos grupos dos hadrossauros e do ceratopsídeos, com alguns terópodes carnívoros entre eles.
Esta fraca diversidade pode ter ocorrido devido a uma falha na adaptação ao meio e/ou uma variabilidade genética empobrecida. As alterações do ecossistema ao nível da alimentação dos herbívoros podem ter sido uma das causas, uma vez que as plantas angiospérmicas surgiram em força e muitos dinossauros não estavam adaptados a esse tipo de alimento.
Tudo o que afetava os herbívoros, também afetava naturalmente os carnívoros que deles se alimentavam.
É possível que os dinossauros não durassem muito mais tempo, mas alguma coisa acabou de forma brusca com a sua dinastia. O que aconteceu há 66 milhões de anos?
Teoria do impacto de um asteróide
São conhecidas cerca de 80 teorias que tentam explicar este desaparecimento, onde até se incluem presumíveis ataques de extraterrestres.
Mas a teoria mais aceite na comunidade científica é a de um impacto de um asteróide.
Sabe-se que o nosso planeta sofreu uma colisão com um asteróide há 66 milhões de anos e que, com ou sem outros fatores à mistura (como atividade vulcânica intensa, alteração na temperatura e outros), extinguiu cerca de 75% da vida na Terra.
A teoria da colisão com um asteróide foi pela primeira vez proposta por Luís Walter Alvarez (prémio Nobel da Física em 1968) e pelo seu filho Walter Alvarez. Tiveram por base a camada de irídio, presente em quantidades consideráveis nas rochas que marcaram o fim do período Cretáceo e que podem ser vistas por todo o mundo.
Este elemento é raro na superfície da Terra – mas encontrado com frequência em corpos celestes como asteróides e cometas.
Apesar de existirem várias crateras na Terra resultantes de impactos com asteróides, a cratera de Chicxulub, soterrada debaixo da Península do Iucatã, no México, é identificada como a fonte do material encontrado na borda do Cretáceo com o Paleogeno.
O asteróide, que media entre 10 a 15 quilómetros, terá chocado com a Terra há 66,043 milhões de anos e a extinção em massa ocorreu durante os 33 mil anos que se seguiram.
Teorias alternativas
É possível que o impacto não tenha sido motivo para a extinção em massa, ou que tenha contribuído, juntamente com outros fatores, para o que aconteceu.
Existem registos paleontológicos de uma intensa atividade vulcânica. A ter ocorrido, poderia explicar algumas das pistas: apesar do irídio ser raro na superfície da Terra, esse elemento existe no interior do planeta e é expelido pelos vulcões, pelo que uma actividade vulcânica longa explicaria a camada de irídio que hoje encontramos nos estratos.
Também explica uma condensação de gases na atmosfera, que teriam causado um arrefecimento e posteriormente um efeito de estufa. Hoje em dia podemos ver que um só vulcão, em erupção, expele uma grande coluna de fumo para a atmosfera. Se em vez de um vulcão fosse uma grande quantidade deles, por todo o globo, dá para imaginar o inferno que não teria sido o mundo naquela época.
Em 2013, num artigo publicado na National Geographic, o geólogo Paul Renne propôs a ideia de que os dinossauros já se encontravam extintos no momento da colisão, devido ás intensas erupções vulcânicas que precederam o impacto.
Segundo Renne, “nunca ninguém encontrou o fóssil de um dinossauro não aviano exatamente na linha de impacto (…) por isso, e falando com rigor, os dinossauros não avianos” – todos os dinossauros não relacionados com as aves – “talvez já se encontrassem extintos quando se deu o impacto.”.
Dada a consistência destas hipóteses, é inclusive proposto na comunidade científica que a extinção tenha sido resultado de todos estes fatores em simultâneo (geologicamente falando, não estamos a falar de um dia ou dois mas sim alguns milhares de anos), o que tornariam a vida no planeta bastante difícil para a maioria dos seres vivos.
Enigmas por desvendar
A extinção dos dinossauros, apesar de intensamente estudada, não deixa de ser algo misteriosa, dado não ser possível viajar no tempo ou recriar de forma exata o nosso mundo há dezenas de milhões de anos.
Um dos enigmas associados à extinção dos dinossauros é a descoberta de fragmentos fósseis pertencentes a hadrossauros, datados de há 64,8 (+/- 0,9) milhões de anos. Ou seja, depois da extinção. A confirmar-se estas datações, significa que alguns dinossauros terão sobrevivido pelo menos mais 300 mil anos.
Tal descoberta, apesar de interessante, não muda o facto de que os dinossauros se extinguiram mesmo, de uma forma mais ou menos gradual.
O azar de uns, a oportunidade de outros
Apesar de cerca de 75% da vida na Terra ter sido extinta há 66 milhões de anos, o vazio provocado pela extinção acabou por se revelar uma oportunidade para outros animais aparecerem e proliferarem.
Os mamíferos diversificaram-se imenso no período Paleogeno, incluindo cavalos, baleias, morcegos e claro os primatas, dos quais nós fazemos parte.
As aves, descendentes dos dinossauros terópodes, também aproveitaram desde cedo a oportunidade de reconstituir a fauna do nosso planeta. Aves gigantes e não voadoras como a gastornis (2 metros de altura), a dromornis (3 metros de altura) e as predadoras aves do terror foram algumas das espécies que povoaram o planeta.
Vai acontecer outra vez?
A extinção dos dinossauros foi a quinta extinção em massa que o planeta sofreu (ou da qual temos registo). Por ordem:
- 450-440 milhões de anos: transição entre o período Ordoviciano e o período Siluriano, extinguiram-se entre 60% a 70% de todas as espécies;
- 375-360 milhões de anos: entre os períodos Devoniano e Carbonífero, extinguiram-se 70% das espécies;
- 251 milhões de anos: a maior de todas, entre os períodos Permiano e Triássico, extinguiram-se 90% a 96% das espécies;
- 201 milhões de anos: entre os períodos Triássico e Jurássico, extinguiram-se 70% a 75% das espécies;
- 66 milhões de anos: extinção dos dinossauros na transição entre o período Cretáceo e Paleogeno, extinguiram-se 75% das espécies.
Nota: Os números são apenas estimativas e calculados a partir daquilo que conseguimos descobrir pelo registo fóssil. É impossível saber exatamente o que aconteceu há 450 milhões de anos através dos poucos fósseis que chegaram até nós.
Olhando para estes números, percebemos que extinções em massa ocorrem de forma cíclica. Também percebemos que, se acontecer outra vez, nós seremos afetados – de uma maneira ou de outra.
A diferença para as extinções em massa anteriores, é que a hipotética sexta grande extinção está a ser provocada por interferência humana. Através da poluição, do aquecimento global, da desflorestação e destruição de diversos habitats, da caça furtiva, tráfico e muitas outras atividades relacionadas com a atividade e expansão humana, estamos a guiar milhares de espécies para a extinção.
Só nos últimos séculos, estão registadas oficialmente as extinções de 897 espécies, das quais 763 são animais. O ser humano contribuiu decisivamente para a extinção de animais icónicos como o dodo, a quagga, o tigre-da-tasmânia, o pombo-passageiro, o puma-oriental e muitos outros. E estivemos também envolvidos na extinção de animais mais antigos, pelo menos desde há 40 mil anos.
Sinal de extinção em massa?
Atualmente não existe consenso, mas o número de animais e plantas que desaparecem a cada ano são alarmantes.
Mesmo que queiramos analisar a situação de uma forma egoísta, pensar só em nós, convém lembrar que a sobrevivência da nossa espécie está dependente de muitas outras. Como disse um dia Albert Einstein, “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, então o homem só terá mais quatro anos de vida.”
Pelos animais que já se extinguiram infelizmente nada pode ser feito. Pelos que ainda estão vivos, temos esse dever enquanto ainda temos hipótese.
Se dentro de algumas décadas virmos desaparecer os grandes felinos, as baleias, as abelhas, os elefantes, as rãs e muitos outros animais que já estão em risco, a questão da sexta extinção fica respondida com a resposta que nenhum de nós quer dar. Seguiremos o mesmo rumo dos dinossauros.
Este artigo foi originalmente publicado na Edição nº 10 da Revista Mundo dos Animais, em Março de 2009, com o título “Mundo dos Dinossauros – Extinção K-Pg”.